Do amor correspondido

Ericka Moderno Rocha
3 min readFeb 4, 2022

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Não existe nada mais sexy que a reciprocidade. Que uma boa conversa. Que dar na mesma medida que se recebe. Não existe nada que alimente mais o amor que fazer planos, traçar metas, sonhar junto. E não existe nada melhor para sonhar juntos que ouvir músicas, ler bons livros, falar sobre suas expectativas e ser compreendido. Nada é mais excitante que receber uma mensagem de quem a gente ama, que ter atenção, que ser ouvida. Eu desconheço a fórmula do amor eterno, mas a do tesão é bem simples: se sentir importante.

Em tempos em que a gente vive sem tempo porque só perde tempo, ser atendida e plenamente correspondida é uma declaração de afeto. Você para de ler o texto, de fazer a planilha, você interrompe o vídeo, você arranja uma brecha na agenda. Você esquece o BBB, o futebol, você pula a série. Você opta por abandonar aquela individualidade quentinha, confortável e fácil de lidar pra se aventurar na vida do outro — ou numa nova vida juntos, quem sabe.

Não existe no planeta coisa mais gostosa que interromper a rotina, sorrir e se sentir acolhida na loucura que se tornou a vida pandêmica. Nada é melhor que quebrar os ciclos viciosos que entramos de calls infinitos, de reuniões desnecessárias, de planejamentos e mais planejamentos sem sentido que a gente faz, refaz e não faz a menor ideia se de fato serão concretizados. A gente passa a maior parte dos nossos dias dando atenção e energia pra quem paga a gente, mas não pra quem nos enriquece.

O que a gente tem de mais precioso é o nosso tempo e de mais importante também. Aprendi com algum chefe ao longo da vida que a gente nunca pode vender aquilo que não pode comprar. Que sejam as férias, que seja o afeto: atenção não é negociável, a gente dá porque quer, a gente ajeita, a gente esquematiza e faz acontecer.

A nova geração se acostumou a uma vida de estranhas ausências. Se conforta com um like, se sente satisfeita com um “reaction”. Eu sempre converso com a minha cunhada adolescente sobre os apps de paquera e a medida do afeto é muito esquisita: “ele curtiu umas 5 fotos antigas minhas, ele só pode estar afim”. Será? Isso que eu chamo de saber ouvir os sinais.

A gente substituiu o cinema com pipoquinha, o cafezinho com bolo, a presença requisitada cheia de ansiedade no almoço em família por alguma coisa mais prática? Talvez? É isso que aconteceu? Se der eu vou, se eu conseguir te falo? Que tristeza é não saber por quem esperar e nem se e nem até quando.

Dá um cansaço tremendo se dedicar a outra pessoa, eu sei. Que preguiça essa coisa de conhecer os defeitos, se adaptar a eles, entender que nem tudo muda ou se transforma com o tempo (talvez quase nada). Mas não existe, não existe mesmo, nada de mais poderoso para alimentar qualquer que seja o relacionamento que estar junto. Na alegria, na doença, na saúde e na tristeza.

Até pra se decepcionar, é melhor reservar um tempinho. Chega de frustrações com términos indefinidos e relações que são, que já foram ou que ainda continuam, mas que não são mais. Faz tempo.

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Ericka Moderno Rocha

Jornalista, blogueira de várzea e designer. Atualmente, criativa e planner. ❤️ Fala comigo! erickamr@gmail.com